Tenho medo de ser hipócrita.Tenho  medo de simular uma coragem que não possuo,uma resposta à qual não dê  crédito.Medo da palavra que finge caridade,que simula o  acolhimento,quando na verdade o que existe é total e vergonhosa  indiferença.Tenho medo de fingir uma fé que não professo.Realizar um  rito que não me envolve,que não me devolve,que não me transforma e que  por isso não me oferece aos outros.
Meu amigo,talvez seja por isso  que eu ame tanto a poesia.Ela é um lugar especial onde as verdades  humanas se mostram sem máscaras.O medo da dor,da solidão,da morte,da  perda,tudo está tão à mostra nos manuscritos confessos.O poeta e sua  revelação.
A vida crua,real ainda que em palavras.O poeta e sua  transfiguração.Nele e a partir dele a humanidade alcança a hermenêutica  como se o fogo da verdade fosse novamente retirado do Olimpo e entregue  aos homens.A poesia ameniza o peso dos medos,porque o amor resolveu  fazer sua casa nos terrenos da linguagem poética.
Há poema mais bonito que um gesto de amor? Até os iletrados são capazes dessa literatura.
(Padre Fábio de Melo,Cartas entre amigos-Sobre medos contemporâneos,pg 21o)